domingo, 23 de junho de 2013

É só ter vontade - ou, vamos falar sobre a Márcia!

Esta mulher de camisa verde é a Márcia: saiba mais sobre ela.

ela aposentou e decidiu: - vou fomentar a leitura e mudar a cidade de Mata Grande!

Certo. Não foi bem assim.. Começou timidamente, como uma brincadeira. "Pedi que as crianças da periferia  da cidade me enviassem cartas relatando o que gostavam e não gostavam na cidade em que viviam. Quem enviasse, receberia alguns brindes, como cadernos e lápis de cor".

Já vivendo em Maceió há cerca de 30 anos, Márcia pediu para uma parente colocar as cartas feitas pelos pequenos no Correios. O que a professora não esperava era receber em sua porta mais de 20 correspondências com as redações. "Percebi que precisava fazer mais. Eles eram muito interessados, só não tinham oportunidade".

E então ela decidiu: abriria uma biblioteca comunitária. Não em Maceió. Mas lá mesmo, na parte alta da periferia de Mata Grande.

Com a ajuda do marido, Márcia batia de porta em porta à procura de doações de livros nas ruas da cidade sertaneja. "Usávamos o transporte coletivo mesmo".

Faltava o espaço, e a solução foi essa: "aluguei uma casa bem pequena, com valor que eu podia pagar. E aí coloquei as estantes e os livros doados".

Para atrair os novos leitores, criatividade não faltou à professora:

"Fiz maratonas de leitura, onde eles liam e escreviam resumos sobre os livros. Além disso, há oficinas de poesia, leituras na praça e várias outras atividades para chamar atenção", explicou.

Há pouco tempo, em decorrência da falta de segurança na parte alta onde ficava a biblioteca, Márcia precisou mudar o espaço físico da biblioteca comunitária.

"Ela mudou para um lugar perto. Mas ainda assim, quando estávamos mudando, as crianças gritavam 'ô tia, para onde você está levando nossa biblioteca?'" conta, comovida.

Como sempre, a biblioteca comunitária da periferia de Mata Grande é mantida  por parte do salário de Márcia e pelo trabalho de uma voluntária que, com ajuda de custo, aceita ficar meio período todos os dias da semana.

"Ninguém da prefeitura ou do governo procurou para auxiliar. Mas também nunca os procurei. Tenho medo de que fique 'devendo favores' e eles consigam manipular a coisa toda. Quero que a biblioteca continue assim, independente", conta a agente de leitura.

 É Márcia... bem sabemos que enquanto as políticas públicas forem vistas como favores, e que enquanto as legítimas cobranças por direitos - inclusive de cultura - forem vistas como 'pedidos', vai ser muito difícil modificar a realidade do acesso ao livro e à leitura nesse estado.

Entretanto - e talvez por isso mesmo - não podemos deixar de louvar (e homenagear!) iniciativas voluntárias que, indiretamente, mostram que só é preciso vontade para efetuar mudanças reais na comunidade em que se vive (ou não!). Diretamente, essas ações atingem crianças e adolescentes que, por meio da leitura, saberão que há alguma coisa além de todo o contexto que as limita e frequentemente as oprime.

São crianças que podem crescer com outras perspectivas só porque, certo dia, lá perto da casa deles, uma mulher chegou e lhes abriu um novo pequeno grande mundo: uma biblioteca.





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